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Em 2020, a professora de inglês Karina Santana, 28, cria da zona leste de São Paulo, perdeu seu emprego em uma rede de escola bilíngue. Em janeiro de 2021, ela decidiu dar aulas particulares. E foi desse trabalho, inicialmente temporário, que ela criou o curso “Karina, Me Ensina”, para promover a diversidade e inclusão na periferia.

A iniciativa criada pela jovem professora busca romper com a lógica de mercado da educação que torna o inglês um idioma acessível para pessoas brancas e de classe média, mas distante de pessoas negras e periféricas. Com isso, o curso apresenta um propósito de impacto social: facilitar o acesso de inúmeras pessoas periféricas ao ensino de inglês, com valores acessíveis, principalmente de mulheres negras da periferia, como ela, que correspondem a 80% dos seus alunos.

“Nessa minha transição eu pude entender e reconhecer ainda mais a necessidade do ensino de línguas. A partir daí eu quis encurtar essa distância entre um curso, que foi elitizado, e pessoas eu. A maioria dos meus alunos são pretos, e eu trago referências que se parecem com eles e fujo um pouco do eixo Inglaterra e Estados Unidos”, explicou a professora.

Karina é pedagoga com especialização e sempre amou ser professora, mas encontrou vários desafios para se manter no mercado de trabalho. Ao voltar da licença maternidade e informar à empresa sobre a condição de saúde do filho mais novo, que exige tratamento e acompanhamento contínuo, Karina foi demitida duas semanas após voltar ao trabalho.

A professora então deu novos rumos para sua vida profissional, adotando o empreendedorismo como uma tentativa de gerar renda e passou a oferecer aulas de inglês por conta própria para um novo perfil de estudantes. Ela começou dando aulas para 3 alunas. Hoje, já são mais de 300 estudantes recebendo conteúdos da professora.

Para ela, não é um curso só com valor acessível, mas com ensino humanizado, que busca entender o motivo real pelo qual as pessoas não conseguem aprender inglês, respeitando o tempo de cada um e fazendo com que tenham autoestima e segurança para se familiarizar com o idioma.

“Pretendo, no segundo semestre, ensinar inglês para adultos desse mesmo projeto social. Iniciativa humanizada é enxergar as pessoas atendidas como se elas fossem eu mesma, com empatia e respeito. É trabalhar com meus alunos esse olhar de que eles podem, sim, aprender inglês, pois não é nada demais. É mostrar a eles as suas capacidades”.

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Karina Santana, de 28 anos, começou a empreender por necessidade após ter sido demitida em 2020, depois de voltar da licença-maternidade. Formada em pedagogia e especializada na língua inglesa, a professora tinha uma carreira em escolas bilíngues de São Paulo (SP), dando aulas para crianças. Após perder o emprego, ela começou a lecionar de forma online para jovens e adultos, abrindo a empresa Teaching Home. Depois de um rebranding no ano passado, sua marca passou a se chamar Karina Me Ensina. O diferencial do curso online, que hoje tem 315 alunos, é a mensalidade acessível para estudantes negros, além das referências ao inglês fora do eixo dos Estados Unidos e Inglaterra: Santana incluiu os sotaques da Jamaica, Quênia e Índia no repertório das aulas.

“Os alunos vêm com uma expectativa de falar igual ao americano. Mas eu mostro que há diferentes sotaques em países que têm a língua inglesa como uma das oficiais”, afirma Santana, contando que trata de temas atuais da cultura pop negra nas aulas, como a apresentação da cantora Rihanna no Super Bowl. “Mostro vídeos da Anitta, Ludmilla e jogadores de futebol brasileiros falando inglês. É possível falar bem a língua sem perder suas raízes”, diz.

Atualmente, a Karina Me Ensina oferece cursos no nível básico, intermediário e avançado divididos nos formatos intensivo, regular e de baixo custo. A mensalidade acessível custa R$ 70 e a da turma regular, com duas aulas por semana, R$ 197. As aulas são ao vivo, mas os cursos também incluem lições gravadas por Santana como um apoio ao aprendizado. “Desenvolvi meu método próprio e quero registrá-lo. Neste ano, devo contratar de cinco a 10 professores e vou treiná-los a partir dele”, afirma.

A empreendedora conta que sua irmã, Vanessa Santana, de 24 anos, que também é pedagoga e professora de inglês, está trabalhando na empresa, dando aulas para parte das turmas. “A ideia é que ela vire coordenadora e passe a gerenciar os futuros professores”, diz.

A empresa passou do enquadramento de microempreendedor individual (MEI) para microempresa (ME) por conta do crescimento obtido após um post viralizar no Twitter. Um usuário criticou o anúncio da mensalidade do curso de Santana – que, no começo, custava R$ 30 – na rede social. A repercussão, no entanto, foi positiva para a empreendedora. “O tuíte era de um professor reclamando que meu curso era muito barato e não deveria ser bom. Em menos de 12 horas, foram 111 inscrições. Em cinco dias, foram 300. Tive de mudar de MEI para ME“, conta.

Santana diz que o viés acessível para alunos negros tem a ver com uma reparação social. “Inglês é a língua mais falada do mundo, então, todos deveriam ter acesso ao seu ensino. No Brasil, isso é elitizado, mas quero quebrar isso aos poucos. Meus alunos dizem: ‘eu nunca tinha tido uma professora de inglês negra antes’. Eles se sentem mais à vontade, sentem que não vou julgá-los ou subestimá-los”, diz Santana.

A estimativa é que a Karina Me Ensina se torne empresa de pequeno porte (EPP) em agosto deste ano. Além das aulas de inglês, Santana está criando um curso online para ajudar os professores do idioma a conquistar mais alunos. “É preciso perder as amarras e os estereótipos de professor, de ser muito formal. Nas redes sociais, isso nos distancia do público”, expressa a empreendedora, que tem 10,9 mil seguidores no Instagram.

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Karina Santana conta fatores raciais e profissionais que a motivaram a criar o curso “Karina, Me Ensina”, focado em pessoas negras e periféricas, que começou com 15 alunos e hoje já atende mais de 500 estudantes

Em janeiro de 2021, a professora de inglês Karina Santana, 28, moradora da zona leste de São Paulo, criou o curso “Karina, Me Ensina”, para romper com a lógica de mercado da educação que torna o inglês um idioma acessível para pessoas brancas e de classe média, e distante de pessoas negras e periféricas.

Um dos diferenciais do curso tem esse propósito de impacto social: facilitar o acesso de inúmeras pessoas periféricas ao ensino de inglês, principalmente de mulheres negras como ela, que correspondem a 80% dos seus alunos.

“O inglês é elitizado no Brasil. E existe a visão de que quem o domina é superior. Nos sentimos inferiorizados porque achamos que deveríamos ter esse conhecimento, quando não é questão de querer, mas de ter condições financeiras para tal.
Karina Santana, professora de inglês e fundadora do “Karina, Me Ensina”.

Batendo de frente com o racismo

Durante a trajetória profissional, Karina conta que, ao longo dos mais de 8 anos em que trabalhou em escolas bilíngues, pôde perceber de perto a diferença brusca entre a sua vida e a daqueles que frequentavam suas aulas, majoritariamente brancos e de classe média, sendo alvo inúmeras vezes de discriminação de raça e classe.

Ela lembra que a postura dos alunos brancos para promoção do racismo deixou marcas na sua trajetória profissional. “Uma vez eu recebi um sabonete de um aluno que, ao entregá-lo, disse que eu devia me lavar, porque eu era suja. Ao levar a questão para a diretoria, eu fui demitida.”

“O choque de realidade que eu vivenciava nas escolas atuando como professora era gritante”
Karina Santana, moradora da Zona Leste de São Paulo.

“Ninguém dizia abertamente que “inglês era coisa de rico e branco”, mas o choque de realidade que eu vivenciava nas escolas atuando como professora era gritante. Eu era sempre a única professora negra e já passei por várias situações de racismo, do velado ao escrachado”, revela Karina.

Além de enfrentar essas situações de racismo no ambiente de trabalho, a professora de inglês vivenciou outra forma de preconceito, desta vez, o alvo foi o seu filho caçula, que ela tinha acabado de dar luz, e nasceu com a Síndrome de Klippel-Trenaunay, uma doença que causa má formação dos ossos, varizes nas veias, manchas no rosto, entre outras complicações que impedem o bom desenvolvimento da criança.

Ao voltar da licença maternidade e informar à empresa sobre a condição de saúde do filho mais novo, que exige tratamento e acompanhamento contínuo, Karina foi demitida duas semanas após voltar ao trabalho, uma atitude antiética da empresa que vai contra a legislação trabalhista. Tais acontecimentos contribuíram para a professora dar novos rumos para sua vida profissional, adotando o empreendedorismo como uma tentativa de gerar renda.

“Eu não sonhava ser empreendedora, eu me tornei empreendedora por necessidade”.
Karina Santana, criadora do curso Karina, Me Ensina.

Ela sempre amou ser professora, mas o fato de encontrar vários desafios para se manter no mercado de trabalho, a levou a oferecer aulas de inglês por conta própria para um novo perfil de estudantes.

“Diferentemente do público que atendia nas escolas bilíngues, eu queria poder me enxergar nos meus alunos e que eles se enxergassem em mim também. Por isso, sempre tive comigo a ideia de ter um curso acessível, de baixo custo e que aproximasse as pessoas periféricas do inglês”, conta a empreendedora.

Inspirada em Paulo Freire

Karina é pedagoga com especialização em pedagogia freiriana, método criado por Paulo Freire que defende uma aprendizagem coletiva, prezando pela troca entre professor e aluno, a partir das realidades sociais e experiências dos estudantes, de modo que eles consigam enxergar sentido e motivação para aprender.

Desta forma, ela não oferece um curso só com valor acessível, mas com ensino humanizado, que busca entender o motivo real pelo qual as pessoas não conseguem aprender inglês, respeitando o tempo de cada um e fazendo com que tenham autoestima e segurança para se familiarizar com o idioma.

“A Teacher Karina é acolhedora, divertida e gentil com todos, sempre nos incentivando a perder a vergonha de julgamento sobre a nossa pronúncia, nos deixando livres para responder perguntas em português quando temos dúvidas de como falar algo, tornando assim, as aulas em um espaço seguro em que podemos errar, aprender e evoluir”, explica Bianca Rodrigues, aluna do curso “Karina, Me Ensina”.

“Antes das aulas da Teacher Karina, eu dependia totalmente do recurso de tradução do Google para compreender textos em inglês, inclusive no meu trabalho.”
Bianca Rodrigues, aluna do curso Karina, Me Ensina.

Os conteúdos abordados nas aulas também recebem atenção especial, por possuírem um olhar crítico sobre o inglês e sua relação com a cultura norte-americana. Diferentemente das escolas tradicionais que vendem o idioma como sendo parte do “sonho americano”, ela tenta romper com essa ideia imperialista, focando na questão de oportunidades e acesso a lugares, seja para trabalhar, estudar ou viajar.

Por isso, a proposta pedagógica não se limita à variação estadunidense e traz o sotaque queniano, indiano, além de trabalhar com música, arte e culturas negras, o que gera identificação com os alunos, fazendo com que se sintam mais à vontade para aprenderem e avançarem no idioma.

A aluna Bianca Rodrigues é formada em publicidade e atua como Social Media. Um dos principais impactos de aprendizagem do curso foi o desenvolvimento do gosto pela leitura de textos em inglês, habilidade fundamental na sua área de trabalho.

“Hoje já faço questão de ler cada texto em inglês e interpretar com calma o que li, partindo para tradução somente em caso de dúvidas específicas. O “Karina, Me Ensina” me incentiva a prestar mais atenção no inglês que está presente no meu dia a dia, a exercitar minha mente com frequência e a me desafiar cada vez mais no idioma”, compartilha Bianca. …

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